domingo, 2 de outubro de 2011

Quantempo

Quanto tempo demora O cego a enxergar Depois que a noite cai, O dia se vai, e chega a hora? Quanto tempo me resta de vida Que, de tão já gastas pernas Das quais andam, há sempre (e ternas) Pelos bosques da juventude perdida? Há quanto tempo disfarço O que sempre senti pelo amor, Que me voou das mãos, com tanto horror Que nem pude mais o agarrar com um só abraço? Manipulo-me. Então, retiro-me, A ler versos de dor sem sentido, Nos quais me encontro, de ser tão contido, De ser tão repetido que até compreendo-me. Há quanto tempo eu não vejo Que estou vivo, e que o tempo passa, Que não há mais peito, nem graça Pra invocar meu São Desejo? E se já não me acabei, Por que aqui estou, a me acabar, Por algo a que ainda há de me matar Que é o tempo pelo qual nem passei? John Borovisque.

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